Estratégias nutricionais para maximizar a hipertrofia muscular — Parte II
Após o o lançamento da parte I, disponibilizamos agora a parte II, deste conjunto de artigos intitulado "Estratégias nutricionais para maximizar a hipertrofia muscular".
Nesta segunda e última parte o nutricionista Filipe Teixeira responde à questão "Como elaborar um plano para maximizar a hipertrofia muscular?".
Pretendemos acima de tudo dar voz a conteúdos com validade científica, feito por nutricionista e para nutricionistas.
Se já tiver tudo a postos, não espere mais e comece agora a desfrutar do artigo.
Já testou o Nutrium?
Junte-se a mais de 30.000 profissionais de nutrição e teste o nosso software de nutrição de forma gratuita
Teste agoraComo elaborar um plano para maximizar a hipertrofia muscular?
Estruturamos um passo-a-passo para que o artigo seja de fácil leitura, e para não se abstrair da informação mais importante.
"1º Passo: Estimar o gasto energético em repouso ou basal e o excedente energético
O gasto energético em repouso e a taxa de metabolismo basal não são idênticos, mas semelhantes. A taxa de metabolismo basal corresponde à energia mínima necessária para que o corpo possa assegurar as suas funções básicas, sendo influenciada maioritariamente pela Massa Isenta de Gordura (MIG)(Schofield, Thorpe, & Sims, 2019).
Em relação a fórmulas preditivas, existem inúmeras disponíveis, como tal recomendo a recente revisão de Schofield et al. (2019), onde poderão encontrar as diversas fórmulas, assim como uma excelente discussão sobre o tópico.
De acordo com a evidência mais recente, a fórmula de Harris-Benedict e a fórmula de Cunningham, parecem ser as mais adequadas para populações atléticas, sendo a primeira mais adequada para homens e a segunda para mulheres (Jagim et al., 2018).
Outra fórmula que também apresenta resultados muito interessantes, em atletas recreativos, é a fórmula de ten Haaf (ten Haaf & Weijs, 2014).
As discrepâncias entre fórmulas devem-se a inúmeros factores, nomeadamente: tipo de população estudada, método de validação (permuta de gases vs água duplamente marcada), índices antropométricos usados - peso/altura ou MIG (sendo também importante a forma como a MIG é aferida) (Schofield et al., 2019).
O Nutrium já inclui tanto a fórmula de Harris-Benedict como a fórmula de Cunningham, por isso a vossa vida está facilitada.
2º Passo: Calcular o nível actividade física do cliente, a termogénese pós-prandial (ainda que alguns artigos sugiram que não é de importância primordial) e o gasto energético do exercício físico (usando equivalentes metabólicos [MET], que deverão ser ajustados para as mulheres).
3º Passo: Calcular a energia em balanço energético e fazer um incremento energético de forma a optimizar os ganhos hipertróficos
Um incremento de 500 kcal/dia tem sido sugerido na literatura (Williams, 2005), no entanto em atletas treinados este excedente deverá ser menor – ~200-300 kcal/dia (Garthe, Raastad, Refsnes, & Sundgot-Borgen, 2013).
Também é importante sublinhar, que os planos deverão ter diferentes aportes energéticos e de macronutrientes, dependendo da tipologia do treino (ou grupos musculares envolvidos) ou dos dias de descanso.
Em contexto competitivo é o plano que deve estar adaptado ao treino e não o contrário.
Em baixo, o exemplo de um culturista com vários anos de experiência, note-se o ajuste energético entre um dos dias de treino e o dia de descanso.
Em relação aos macronutrientes, em indivíduos saudáveis, as recomendações são:
- Proteína: 1,6 a 2,2 g/kg de peso/dia (R. W. Morton et al., 2017)
- Hidratos de Carbono: 3 a 7 g/kg de peso/dia (Slater & Phillips, 2011).
- Gordura: a ingestão deverá rondar 20-30% do valor energético total diário.
De forma resumida, deixo algumas estratégias nutricionais que podem maximizar a hipertrofia muscular a partir do treino da força (R. Morton, McGlory, & Phillips, 2015):
Consumo da proteína após o exercício: apesar do aporte proteico diário total ser o factor mais determinante na hipertrofia muscular (Brad Jon Schoenfeld, Aragon, & Krieger, 2013), não existe qualquer benefício em não aproveitar o período pós-treino para alimentar o atleta (Cintineo, Arent, Antonio, & Arent, 2018).
Apontar para 0,4 g/kg de peso/refeição de proteína (em jovens): isto representa 0,25 g/kg de peso/refeição + 2 DP.
Garantir cerca de 3 g de leucina por refeição (neste momento já sabemos que não é só leucina, mas não posso falar para já sobre isto).
Garantir 4 refeições por dia (talvez até 6) (B. J. Schoenfeld, Aragon, & Krieger, 2015).
Garantir ingestão de proteína antes de dormir: ~0,5-0,6 g/kg (idealmente caseína, ex. queijo fresco).
Garantir fontes proteicas de qualidade/completas (carne, peixe, ovos, leite, soro do leite etc.) que possam maximizar a síntese proteica muscular (SPM). Isto não se resume apenas a fontes proteicas de origem animal, qualquer fonte proteica que forneça de 6 a 15 g de aminoácidos essenciais e 1,7 a 5 g de leucina, irá maximizar a SPM (Churchward-Venne et al., 2014; Kerksick et al., 2018).
Tudo isto é difícil de operacionalizar?
Se usarem o Nutrium a tarefa fica muito mais facilitada, já que o software apresenta cálculos e distribuições dos diversos macro e micronutrientes.
Então e suplementos? Num próximo artigo abordaremos os suplementos que poderão apresentar alguns benefícios em relação à hipertrofia muscular."
Já testou o Nutrium?
Junte-se a mais de 30.000 profissionais de nutrição e teste o nosso software de nutrição de forma gratuita
Teste agoraEsperamos que tenham gostado deste artigo tanto quanto nós.
Tem algum tema de nutrição que gostasse que trouxéssemos para o nosso blog? Deixe-nos a sugestão em info@nutrium.io.
Ainda não testou o Nutrium? Registe-se aqui para iniciar os seus 14 dias de teste grátis.
Referências:
Abe, T., Buckner, S. L., Dankel, S. J., Jessee, M. B., Mattocks, K. T., Mouser, J. G., & Loenneke, J. P. (2018). Skeletal muscle mass in human athletes: What is the upper limit? , 30(3), e23102. doi: 10.1002/ajhb.23102
Ackland, T. R., Lohman, T. G., Sundgot-Borgen, J., Maughan, R. J., Meyer, N. L., Stewart, A. D., & Muller, W. (2012). Current status of body composition assessment in sport: review and position statement on behalf of the ad hoc research working group on body composition health and performance, under the auspices of the I.O.C. Medical Commission. Sports Med, 42(3), 227-249. doi: 10.2165/11597140-000000000-00000
Alegre, L. M., Jimenez, F., Gonzalo-Orden, J. M., Martin-Acero, R., & Aguado, X. (2006). Effects of dynamic resistance training on fascicle length and isometric strength. J Sports Sci, 24(5), 501-508. doi: 10.1080/02640410500189322
Blazevich, A. J., Cannavan, D., Coleman, D. R., & Horne, S. (2007). Influence of concentric and eccentric resistance training on architectural adaptation in human quadriceps muscles. J Appl Physiol (1985), 103(5), 1565-1575. doi: 10.1152/japplphysiol.00578.2007
Blazevich, A. J., Gill, N. D., Bronks, R., & Newton, R. U. (2003). Training-specific muscle architecture adaptation after 5-wk training in athletes. Med Sci Sports Exerc, 35(12), 2013-2022. doi: 10.1249/01.mss.0000099092.83611.20
Buckinx, F., Landi, F., Cesari, M., Fielding, R. A., Visser, M., Engelke, K., . . . Kanis, J. A. (2018). Pitfalls in the measurement of muscle mass: a need for a reference standard. J Cachexia Sarcopenia Muscle, 9(2), 269-278. doi: 10.1002/jcsm.12268
Churchward-Venne, T. A., Breen, L., Di Donato, D. M., Hector, A. J., Mitchell, C. J., Moore, D. R., . . . Phillips, S. M. (2014). Leucine supplementation of a low-protein mixed macronutrient beverage enhances myofibrillar protein synthesis in young men: A double-blind, randomized trial1-3. American Journal of Clinical Nutrition, 99(2), 276-286. doi: 10.3945/ajcn.113.068775
Cintineo, H. P., Arent, M. A., Antonio, J., & Arent, S. M. (2018). Effects of Protein Supplementation on Performance and Recovery in Resistance and Endurance Training. Frontiers in Nutrition, 5, 83-83. doi: 10.3389/fnut.2018.00083
Garthe, I., Raastad, T., Refsnes, P. E., & Sundgot-Borgen, J. (2013). Effect of nutritional intervention on body composition and performance in elite athletes. Eur J Sport Sci, 13(3), 295-303. doi: 10.1080/17461391.2011.643923
Jagim, A. R., Camic, C. L., Kisiolek, J., Luedke, J., Erickson, J., Jones, M. T., & Oliver, J. M. (2018). Accuracy of Resting Metabolic Rate Prediction Equations in Athletes. J Strength Cond Res, 32(7), 1875-1881. doi: 10.1519/jsc.0000000000002111
Kerksick, C. M., Wilborn, C. D., Roberts, M. D., Smith-Ryan, A., Kleiner, S. M., Jäger, R., . . . Kreider, R. B. (2018). ISSN exercise & sports nutrition review update: research & recommendations. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 15(1), 38-38. doi: 10.1186/s12970-018-0242-y
Kim, J., Heshka, S., Gallagher, D., Kotler, D. P., Mayer, L., Albu, J., . . . Heymsfield, S. B. (2004). Intermuscular adipose tissue-free skeletal muscle mass: estimation by dual-energy X-ray absorptiometry in adults. J Appl Physiol (1985), 97(2), 655-660. doi: 10.1152/japplphysiol.00260.2004
Lee, R. C., Wang, Z., Heo, M., Ross, R., Janssen, I., & Heymsfield, S. B. (2000). Total-body skeletal muscle mass: development and cross-validation of anthropometric prediction models. Am J Clin Nutr, 72(3), 796-803. doi: 10.1093/ajcn/72.3.796
Lohman, T. G., Harris, M., Teixeira, P. J., & Weiss, L. (2000). Assessing Body Composition and Changes in Body Composition: Another Look at Dual-Energy X-ray Absorptiometry. Annals of the New York Academy of Sciences, 904(1), 45-54. doi: 10.1111/j.1749-6632.2000.tb06420.x
Morton, R., McGlory, C., & Phillips, S. (2015). Nutritional interventions to augment resistance training-induced skeletal muscle hypertrophy. Front Physiol, 6(245). doi: 10.3389/fphys.2015.00245
Morton, R. W., Murphy, K. T., McKellar, S. R., Schoenfeld, B. J., Henselmans, M., Helms, E., . . . Phillips, S. M. (2017). A systematic review, meta-analysis and meta-regression of the effect of protein supplementation on resistance training-induced gains in muscle mass and strength in healthy adults. British Journal of Sports Medicine, 0(6), 1-10. doi: 10.1136/bjsports-2017-097608
Paul, A. C., & Rosenthal, N. (2002). Different modes of hypertrophy in skeletal muscle fibers. J Cell Biol, 156(4), 751-760. doi: 10.1083/jcb.200105147
Schoenfeld, B. J. (2010). The Mechanisms of Muscle Hypertrophy and Their Application to Resistance Training. Jounal of Strength and Conditioning Research, 24(10), 2857-2872.
Schoenfeld, B. J., Aragon, A. A., & Krieger, J. W. (2013). The effect of protein timing on muscle strength and hypertrophy: a meta-analysis. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 10(1), 53. doi: 10.1186/1550-2783-10-53
Schoenfeld, B. J., Aragon, A. A., & Krieger, J. W. (2015). Effects of meal frequency on weight loss and body composition: a meta-analysis. Nutr Rev, 73(2), 69-82. doi: 10.1093/nutrit/nuu017
Schofield, K. L., Thorpe, H., & Sims, S. T. (2019). Resting metabolic rate prediction equations and the validity to assess energy deficiency in the athlete population. 104(4), 469-475. doi: 10.1113/ep087512
Seynnes, O. R., de Boer, M., & Narici, M. V. (2007). Early skeletal muscle hypertrophy and architectural changes in response to high-intensity resistance training. J Appl Physiol (1985), 102(1), 368-373. doi: 10.1152/japplphysiol.00789.2006
Slater, G., & Phillips, S. M. (2011). Nutrition guidelines for strength sports: sprinting, weightlifting, throwing events, and bodybuilding. J Sports Sci, 29 Suppl 1, S67-77. doi: 10.1080/02640414.2011.574722
ten Haaf, T., & Weijs, P. J. M. (2014). Resting energy expenditure prediction in recreational athletes of 18-35 years: confirmation of Cunningham equation and an improved weight-based alternative. PLOS ONE, 9(9), e108460-e108460. doi: 10.1371/journal.pone.0108460
Tesch, P. A., & Larsson, L. (1982). Muscle hypertrophy in bodybuilders. Eur J Appl Physiol Occup Physiol, 49(3), 301-306.
Toigo, M., & Boutellier, U. (2006). New fundamental resistance exercise determinants of molecular and cellular muscle adaptations. Eur J Appl Physiol, 97(6), 643-663. doi: 10.1007/s00421-006-0238-1
Toombs, R. J., Ducher, G., Shepherd, J. A., & De Souza, M. J. (2012). The impact of recent technological advances on the trueness and precision of DXA to assess body composition. Obesity (Silver Spring), 20(1), 30-39. doi: 10.1038/oby.2011.211
Williams, M. H. (2005). Nutrition for health, fitness, and sport.: McGraw-Hill Science Engineering.
Zillikens, M. C., Demissie, S., Hsu, Y. H., Yerges-Armstrong, L. M., Chou, W. C., Stolk, L., Kiel, D. P. (2017). Large meta-analysis of genome-wide association studies identifies five loci for lean body mass. Nat Commun, 8(1), 80. doi: 10.1038/s41467-017-00031-7