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Câncer: sua dieta pode aumentar o risco de câncer? Entenda a relação com o consumo de carnes

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Nas últimas décadas, o consumo global de carne aumentou de forma significativa, impulsionado pelo crescimento populacional, urbanização e aumento da renda em países em desenvolvimento. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/OMS), a ingestão média mundial de carne mais que dobrou desde 1960, e a tendência é que esse crescimento continue.

Em paralelo a esse aumento, cresce também a preocupação da população com a qualidade da alimentação e os impactos que certos hábitos alimentares podem ter na saúde. Questões como obesidade, doenças cardiovasculares e o risco de câncer vêm sendo cada vez mais discutidas — especialmente quando se trata do consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas. O tema passou a ocupar espaço central em pautas de saúde pública e em escolhas alimentares mais conscientes.

Diante desse cenário, a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), elaborou, em 2014, um programa para fornecer evidências científicas confiáveis sobre os riscos de câncer associados ao consumo de carne vermelha e processada.

A carne vermelha é definida como toda carne muscular de mamíferos, incluindo carne bovina, suína, de cordeiro e de cabra. Já a carne processada é aquela que foi transformada por meio de salga, cura, fermentação, defumação ou outro processo com o objetivo de realçar o sabor ou melhorar a conservação. Esse grupo não se limita às carnes vermelhas e inclui também carnes de aves, peixes e vísceras. Exemplos comuns de carnes processadas incluem salsichas, nuggets, bacon, sardinha ou atum em lata, charque e todos os tipos de embutidos.

A IARC classifica os agentes carcinogênicos em quatro categorias:

• Grupo 1: Carcinogênico para humanos;

• Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para humanos;

• Grupo 2B: Possivelmente carcinogênico para humanos;

• Grupo 3: Não classificável quanto à sua carcinogenicidade em humanos.

Atualmente, a carne vermelha é classificada como Grupo 2A, ou seja, provavelmente cancerígena para humanos. Essa classificação se baseia em evidências limitadas de estudos epidemiológicos que mostram associações positivas entre o consumo de carne vermelha e o desenvolvimento de câncer colorretal, além de fortes evidências que sugerem seu potencial cancerígeno, embora ainda insuficientes para confirmação definitiva.

Já as carnes processadas, com as quais devemos ter mais atenção, pertencem ao Grupo 1, classificadas como cancerígenas para humanos. Isso significa que há evidências suficientes de que o consumo desses alimentos causa câncer, especialmente câncer colorretal. Vale destacar que nessa mesma categoria estão substâncias como tabaco, amianto e fumaça de óleo diesel — o que indica a robustez das evidências, mas não necessariamente o mesmo grau de risco.

Na prática, o risco está associado à frequência e à quantidade consumida. Não é porque alguém comeu um cachorro-quente que desenvolverá câncer. Porém, pessoas que estão frequentemente expostas a esses compostos têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver a doença. Estudos mostram que o risco aumenta proporcionalmente ao consumo. Uma análise de dados de 10 estudos estimou que cada porção diária de 50g de carne processada aumenta o risco de câncer colorretal em cerca de 18%.

Por exemplo, um trabalhador exposto à fumaça de óleo diesel, fumante e com dieta baseada em carnes processadas, tem uma probabilidade significativamente maior de desenvolver câncer ao longo da vida, se comparado a outro que não se expõe a esses fatores.

O risco associado à carne vermelha é mais difícil de quantificar, pois as evidências são menos consistentes. De acordo com estimativas do Global Burden of Disease Project (GBD), uma organização acadêmica independente, cerca de 34 mil mortes por câncer por ano no mundo são atribuídas a dietas ricas em carnes processadas.

As pesquisas não permitem, até o momento, conclusões sobre os riscos em pessoas que já tiveram câncer, nem quantificar com precisão qual quantidade de carne in natura ou processada seria considerada segura para consumo. Por isso, a OMS recomenda que indivíduos preocupados com o câncer considerem reduzir o consumo desses alimentos até que novas diretrizes mais atualizadas e baseadas em evidências estejam disponíveis.

É importante salientar que os riscos associados ao consumo de aves e peixes não foram avaliados nos estudos revisados pela IARC, e não houve comparações diretas entre vegetarianos e pessoas que consomem carne. Também não há dados suficientes que diferenciem os riscos entre os diferentes tipos de carnes vermelhas ou processadas.

O grupo de trabalho da IARC, responsável por essa avaliação, foi composto por 22 especialistas de 10 países, que analisaram mais de 800 estudos sobre câncer em humanos, sendo mais de 700 com dados sobre carne vermelha e mais de 400 com dados sobre carne processada.

O consumo de carne pode fazer parte de uma dieta equilibrada, desde que associado a métodos de preparo adequados e em frequência moderada. Além de ser uma importante fonte de proteínas, ferro e vitamina B12, seu impacto na saúde depende do contexto alimentar individual, do estado nutricional e do histórico clínico de cada pessoa.

De modo geral, estratégias como substituir carnes processadas por alimentos in natura, variar as fontes de proteína com inclusão de leguminosas, peixes e ovos, optar por métodos de preparo mais saudáveis (como cozidos e assados), além de manter uma alimentação rica em frutas e vegetais, são caminhos recomendados para promover saúde e longevidade.

Por fim, evite o terrorismo nutricional. Faça suas escolhas de forma consciente e com base em informações confiáveis. Reflita sobre seus hábitos atuais, anote os pontos que deseja melhorar e, se necessário, busque a orientação de um profissional qualificado para te auxiliar na conquista de seus objetivos.


Referências:

• Organização Mundial da Saúde (OMS). Cancer: Carcinogenicity of the consumption of red meat and processed meat

https://www.who.int/news-room/questions-and-answers/item/cancer-carcinogenicity-of-the-consumption-of-red-meat-and-processed-meat

• The Lancet. Global Burden of Disease Study (GBD)

https://www.thelancet.com/gbd

• WHO – Healthy diet fact sheet

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/healthy-diet 

Atinja os seus objetivos com o melhor acompanhamento!
Luiz Cezar Ribeiro da Silva
Luiz Cezar Ribeiro da Silva
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