Em tempos de dietas da moda, contagem de calorias e protocolos alimentares rígidos, a prática alimentar comportamental surge como um caminho mais gentil e individualizado. Essa abordagem propõe um olhar ampliado sobre a alimentação, que leva em consideração não apenas o que se come, mas como, por que, quando e em que contexto se come.
Ela parte da compreensão de que o comportamento alimentar é influenciado por múltiplos fatores — fisiológicos, emocionais, culturais e sociais — e que promover saúde envolve escutar e respeitar o corpo, desenvolver autonomia alimentar e desconstruir crenças rígidas sobre comida.
🍽️ O que é a prática alimentar comportamental?
A prática alimentar comportamental é uma abordagem centrada no paciente, que considera as dimensões biopsicossociais da alimentação. Seu foco está na promoção da saúde e bem-estar, e não em restrições alimentares ou metas estéticas.
Essa prática é baseada em estratégias como:
Mindful eating (atenção plena na alimentação)
Trabalho com crenças alimentares e padrões de comportamento
Estímulo à percepção dos sinais de fome e saciedade
Resgate do prazer e da autonomia ao comer
💬 Comer vai além da nutrição biológica
A alimentação é um comportamento complexo, que carrega significados culturais, afetivos, sociais e emocionais. Comer não é apenas uma ação biológica — é também uma expressão de identidade, memória, vínculo e prazer.
Por isso, quando a alimentação está permeada por culpa, medo ou descontrole, é necessário compreender o comportamento alimentar como um fenômeno multifatorial, e não apenas como uma questão de “força de vontade”.
🌱 Pilares da prática alimentar comportamental:
1. Comer com atenção plena
A atenção plena (mindfulness) na alimentação favorece a consciência sobre os sinais internos de fome e saciedade, promovendo maior conexão com o corpo e redução de comportamentos impulsivos.
2. Flexibilidade alimentar
Nenhum alimento é “bom” ou “ruim” isoladamente. Todos podem ter espaço dentro de uma alimentação equilibrada e prazerosa, sem extremismos ou moralizações.
3. Prazer ao comer
O prazer é um componente legítimo e essencial da alimentação saudável. Comer com satisfação favorece o equilíbrio e reduz o risco de episódios de compulsão ou culpa alimentar.
4. Reconhecimento dos gatilhos emocionais
A comida pode, sim, cumprir uma função emocional. Entender os gatilhos e ampliar o repertório de estratégias de enfrentamento é essencial para uma relação mais saudável com a comida.
5. Autocompaixão
Substituir a autocrítica por um olhar gentil consigo mesma(o) favorece o engajamento em mudanças sustentáveis, reduz o comportamento de tudo ou nada e melhora a relação com o corpo e a alimentação.
🤍 Resultados que vão além do peso
Os benefícios da prática alimentar comportamental não se restringem à perda ou manutenção de peso. Estudos mostram que essa abordagem contribui para:
Redução de comportamentos alimentares disfuncionais
Melhora da autoestima e imagem corporal
Diminuição do comer emocional e do comer restritivo
Maior satisfação corporal e qualidade de vida
Essa é uma abordagem especialmente importante para pacientes que já vivenciaram diversas tentativas frustradas de dieta, que apresentam histórico de restrição alimentar, compulsão, ou que desejam um cuidado mais compassivo com a própria saúde.
✨ Conclusão
A prática alimentar comportamental propõe uma transformação na forma como nos relacionamos com a comida. Ela convida ao autoconhecimento, à autonomia e à construção de um caminho possível e sustentável de cuidado com o corpo e a mente.
Mais do que regras, ela oferece ferramentas.
Mais do que resultados rápidos, ela promove mudanças duradouras.
E mais do que controle, ela traz reconexão.
📚 Referências bibliográficas
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