Blog deSara Lopes de Sousa

Nutricionista · 0811N

Parei para pensar como posso fazer melhor, ser melhor hoje e amanhã.

Contactar

Alimentos com História - O Chá

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

 ? Sabia que o chá é a bebida mais popular a seguir à água?

 ? Sabia que os britânicos têm a agradecer a uma princesa portuguesa pela sua introdução no seu país?

Desde o misterioso oriente até à Velha Europa, o Chá conta uma História Milenar, envolta em misteriosas lendas e misticismo, mas também através de testemunhos verídicos da sua verdadeira epopeia.

O Chá e o Imperador Sheng Nong 

Conta-se que, há 5000 anos, na China, o Imperador Sheng Nong, conhecido como o Curandeiro Divino, preocupado com as epidemias que regularmente assolavam o Império, promulgou um édito onde exigia que toda a água fosse fervida antes de ser consumida. Certo dia, num quente verão oriental, o Imperador mandou parar a sua comitiva, para que todos descansassem. Os servos começaram a ferver água para que pudessem beber, mas algumas folhas, provenientes de um arbusto, foram arrastadas pelo vento, caindo no recipiente em ebulição. Pouco a pouco, a água foi adquirindo uma tonalidade castanha. O Imperador, curioso, decidiu provar a estranha infusão e ficou surpreendido pelo sabor extremamente agradável. Assim, o Imperador Sheng Nong tornou-se um grande adepto do chá.

O Chá por Terras Chinesas

? Sabia que um Imperador chinês consagrou o chá como bebida nacional?

? Um ministro das finanças chinês foi demitido por aumentar o imposto sobre o chá?

Conta-se que, entre os anos 618 e 906, a família imperial da Dinastia Tang assistiu à divulgação de uma bebida trazida dos Himalaias por monges budistas. O arbusto do chá, Camelia Sinensis, crescia em estado selvagem nesta cordilheira asiática, chegando atingir 5 metros de altura. Mais tarde, os chineses conseguiram dominar o cultivo do arbusto.

No ano 780, o monge budista Lu Yu escreveu o primeiro livro sobre o Chá, onde descreveu os métodos de cultivo e de preparação bem como os benefícios para a saúde.


A Difusão do Chá

A partir da China, o chá espalhou-se pelo mundo, primeiro pelo vizinho Japão, onde bebê-lo se tornou um ato cerimonial partilhado por todas as classes. O chá era mais do que uma simples bebida aconchegante, atingindo mesmo o estatuto de uma forma de arte, com direito a cerimónia própria, o Cha-no-yu. Foram construídos edifícios específicos para albergar esta cerimónia, onde o objetivo era preparar e servir o chá da forma mais perfeita e graciosa, um ritual que demorava anos a aprender e a aperfeiçoar. Esta arte, praticada inclusive pelas geishas, tornou-se tão popular que se realizaram torneios com prémios como joias, seda, armaduras e espadas.

Aos poucos, o chá difundiu-se para o Ocidente, através da Ásia Central e da Rússia. Mas foi apenas com a chegada dos portugueses ao Oriente, em finais do século XV, inícios do século XVI, que o chá começou a difundir-se pela Europa. As naus portuguesas traziam carregamentos de chá para o porto de Lisboa e grande parte era levada para a Holanda e França, dois países que se tornaram rapidamente grandes consumidores desta bebida. Contudo, Portugal foi perdendo aos poucos o monopólio do comércio do chá na Europa. Nesta altura, o seu transporte era tão caro que apenas as classes nobres o consumiam. 

Os holandeses, no século XVII, dotados de uma poderosa frota, trouxeram grandes quantidades de chá para a Europa de tal forma que, no espaço de uma geração, o chá deixou de ser uma bebida exclusiva da nobreza e alta burguesia, para passar a ser popularmente consumido. 


? Sabia que foi um jesuíta português, de apelido Cruz, o primeiro europeu a escrever sobre o chá?


Uma princesa portuguesa em Inglaterra  


As Ilhas Britânicas mantinham-se, em meados do século XVII, alheadas ao chá, mas tudo mudou graças à princesa portuguesa Catarina de Bragança, filha de d. João IV, que casou com Carlos II de Inglaterra, em 1662, levando para a corte britânica a arte de beber chá. Diz-se que terá levado, no seu dote, uma arca de chá da China, uma fortuna na altura. No dote, estava também Bombaim, possibilitando aos britânicos o seu estabelecimento na Índia, onde desenvolveram grandes plantações de chá.

O episódio de Catarina de Bragança, e as relações nem sempre fáceis com os ingleses, levaram Afonso Lopes Vieira, a escrever este poema:

Se um inglês ao passar me olhar com desdém,

Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!

Se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,

Fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.

Se nas índias flutua essa bandeira inglesa,

Fui eu que t’as cedi num dote de princesa.

E para te ensinar a ser correto já,

Coloquei-te na mão uma xícara de chá. 

Consumo elitista

O entusiasmo dos britânicos pelo chá era tal que, nos primeiros anos de consumo, esta bebida não estava ao alcance de todos porque tinha um imposto muito elevado. Em 1689, as suas vendas quase que pararam por completo. Foi nesta altura que surgiu o contrabando de chá em larga escala com uma rede de crime organizado que adulterava as folhas de chá, adicionando-lhes folhas de outras plantas. Este negócio de mercado negro chegou a proporções tal que, em 1784, o primeiro-ministro William Pitt reduziu o imposto de 119% para 12,5%.


O Chá das cinco 

Desde há muito nos habituamos a associar os ingleses ao chá das cinco. Mas somente no século XVII, o chá se tornou moda entre a alta sociedade de Londres. A alta sociedade começou a reunir-se em jardins de chá, espaços ao ar livre, onde podiam tomar chá juntos, ouvir concertos e admirar o fogo de artifício. Mas, só depois de a Índia se ter tornado numa colónia inglesa (e os britânicos se aperceberem, para seu espanto, que as plantas do chá não cresciam só na selva), é que a bebida passou a estar disponível a todos os níveis da sociedade.

O afternoon tea, o chá da tarde, foi obra de Anna, sétima duquesa de Bedford. Nos finais de 1700, era costume tomarem-se grandes pequenos-almoços e ceias e, por volta das 5 horas, a duquesa padecia de uma “sensação de fraqueza”. Assim, ordenou que servissem chá e bolos a essa hora. Tornou-se, então, uma moda aristocrática e mais tarde um hábito nacional.


O chá na Rússia 

Na Rússia, coloca-se uma infusão de chá bastante forte e servem um pouco desse chá concentrado, acrescentando água quente, até obter um chá mais fraco, ao gosto de cada um. É servido no samovar, que foi introduzido por invasores mongóis no século XII, e é uma peça muito especial para os russos.

 

O chá no Afeganistão

Há muitos tipos de Chaikana, ou casas de chá, no Afeganistão. As mais luxuosas têm o chão coberto de maravilhosos tapetes da região, servindo refeições completas, bem como o chá.


Os tipos de chá 

Os tipos de chá são distinguíveis pelo seu processamento. O arbusto Camelia Sinensis tem as folhas sempre verdes e estas são secas depois de apanhadas e rapidamente começam a oxidar. O processo seguinte é a paragem do processo de oxidação, removendo a água das folhas via aquecimento. O chá classifica-se em quatro categorias principais: o chá branco, o chá verde, o chá preto (ao qual os chineses chamam o chá vermelho) e o chá wu-long – o dragão preto. As diferentes tonalidades do chá resultam dos diferentes tratamentos e do momento da paragem da oxidação. Os chineses preferem o chá verde, cujas folhas são secas ao sol ou em dessecadores especiais. 


Texto e ilustrações da Nutricionista Sara Lopes de Sousa

Atinja os seus objetivos com o melhor acompanhamento!
Sara Lopes de Sousa
Sara Lopes de Sousa
Nutricionista · 0811N
Parei para pensar como posso fazer melhor, ser melhor hoje e amanhã.
Contactar