O início de um novo ano, especialmente o mês de janeiro, carrega consigo inúmeras promessas. Ele chega cheio de esperança e repleto de expectativas. Há algo quase mágico nessa época, quando a ideia de mudança parece mais possível, como se tivéssemos um convite para recomeçar.
Mudar, no entanto, não é fácil. Deixar para trás velhos hábitos, emoções, relações ou mesmo rotinas de trabalho é um desafio. Mas é curioso como janeiro torna essa palavra – mudança – mais leve. É como se houvesse uma sensação coletiva de que, se começarmos agora, o ano novo fará a sua parte e tudo ficará bem.
Atualmente, estou vivendo um processo de mudança – no sentido literal. Estou trocando de casa. É interessante como parece que a casa onde moro está me "expulsando". Nos últimos cinco dias, o chuveiro queimou, a válvula de descarga quebrou, uma infiltração surgiu na parede do escritório, e o interruptor da cozinha começou a apresentar mau contato. É como se o ambiente estivesse sinalizando que é hora de partir.
E, apesar dos desafios, sinto a expectativa de um novo lar me preenchendo. Passo horas imaginando a decoração, os móveis, as cores que quero em cada cantinho. É delicioso sonhar e planejar. Mas, entre os meus planos e a realidade, existe uma estrada a ser percorrida: fazer orçamentos, planejar financeiramente, encaixotar, transportar e, claro, desencaixotar tudo novamente.
O curioso é que esse processo reflete muito o autocuidado. Assim como na mudança de casa, muitas vezes é preciso sentir o incômodo antes de vislumbrar a necessidade de transformação. E, como já disse, mudar não é fácil.
Ao contrário de muitos coaches por aí, não acredito que as metas de fim de ano sejam a melhor solução. Janeiro traz consigo um entusiasmo imaturo, que, embora leve, pode nos tornar "cegos". Criamos metas irreais e genéricas – perder peso, cortar o açúcar, correr 10 quilômetros – muitas vezes apenas porque elas estão em alta nas redes sociais, sem parar para refletir: qual é o incômodo que eu realmente quero resolver?
O resultado disso, infelizmente, é frustração. Uma frustração profunda, que dói até os ossos. Chegamos a dezembro e, ao olhar para trás, percebemos que tudo o que fizemos foi sobreviver, sem realmente mudar o que precisava ser mudado.
Há algum tempo, li em algum lugar que, antes de qualquer mudança, vem o incômodo. Na época, não dei muita atenção. Mas, nos últimos dias, tenho pensado muito sobre isso e me dei conta de como é verdade.
O incômodo é desconfortável, mas essencial para que possamos, de fato, iniciar um processo de mudança. Marle Alvarenga, em seu livro Nutrição Comportamental, afirma que "os indivíduos só alteram seu comportamento quando estão preparados". Ela também diz que "a mudança de comportamento não acontece nem pela persuasão, nem quando é incompatível com as metas, e não depende de força de vontade, nem de vergonha na cara".
Quando li esses trechos, achei-os fantásticos e extremamente realistas. Se suas metas de ano novo forem traçadas apenas para seguir as hashtags mais populares da internet, sem serem fiéis ao incômodo que você realmente sente, a mudança dificilmente acontecerá.
Antes de traçar suas metas, reserve um instante para reconhecer aquele sentimento de que a sua "casa" está te expulsando, mostrando que é hora de buscar um novo lugar. Permita-se sentir o que você precisa. Não se deixe influenciar por um mundo dominado por metas genéricas de influenciadores digitais. Esses são meus votos de ano novo: que você escute a si mesmo e construa mudanças verdadeiras.