Está Tudo a Cair? Testosterona, Foco, Fertilidade… Mas Há Solução
sexta-feira, 13 de junho de 2025
Enquanto o ciclo menstrual feminino se repete, em média, a cada 29,5 dias — quase em harmonia com as fases da lua — o corpo masculino segue um ritmo diferente: um ciclo diário, guiado pela luz solar.
Ao contrário do organismo feminino, cujo eixo hormonal é altamente influenciado por flutuações mensais, o ritmo biológico do homem é fundamentalmente circadiano — ou seja, de 24 horas. E este ritmo está profundamente enraizado na exposição à luz natural.
O relógio biológico masculino: regido pelo sol
Estudos mostram que as hormonas masculinas, especialmente a testosterona e o cortisol, seguem padrões diários previsíveis, com picos de produção no início do dia e um declínio progressivo ao longo da tarde e noite (1,2). Este padrão está diretamente ligado à exposição à luz natural, especialmente nas primeiras horas da manhã:
• A testosterona atinge os níveis mais elevados entre as 6h e as 9h da manhã (3).
• O cortisol, essencial para o estado de alerta e resposta ao stress, também sobe rapidamente ao acordar — um fenómeno conhecido como “cortisol awakening response”.
• A dopamina, neurotransmissor envolvido na motivação, desejo sexual e foco, é igualmente estimulada pela luz natural matinal (4).
Tudo isto indica que o sistema hormonal masculino depende da luz solar para funcionar de forma ideal. Dormir até tarde, viver em ambientes fechados e usar luz artificial à noite pode comprometer este ritmo solar, com impacto direto na energia, libido, fertilidade e saúde mental.
Uma tendência preocupante: a queda da testosterona nas últimas décadas
Para além do declínio natural associado ao envelhecimento, diversos estudos demonstram uma diminuição progressiva dos níveis de testosterona nas últimas décadas, mesmo em homens jovens. Um estudo com mais de 100.000 homens em Israel (2006–2019) revelou uma redução acentuada da testosterona total, não explicada por fatores como obesidade (5). Outro estudo realizado nos EUA evidenciou uma queda contínua nos níveis médios de testosterona, mesmo após ajustes para IMC (6).
Esta tendência sugere que fatores ambientais e comportamentais modernos — como luz artificial excessiva, sedentarismo, stress crónico e disrupção dos ritmos naturais — estão a afetar negativamente o eixo hormonal masculino, contribuindo para sintomas como fadiga, baixa libido, perda de massa muscular e alterações de humor.
A roupa que veste pode estar a afetar a fertilidade
Um estudo clássico em cães demonstrou que a exposição contínua à roupa interior de poliéster, mesmo quando ajustada para permitir ventilação testicular, levou a redução significativa da contagem de espermatozoides, motilidade e aumento de formas anormais, com alterações reversíveis após a retirada da peça (7,8). Estes efeitos não foram observados em grupos que usavam algodão, sugerindo que as propriedades electrostáticas do poliéster podem interferir na função testicular. Embora mais estudos em humanos sejam necessários, estes resultados colocam em causa a escolha de fibras sintéticas em roupa interior — especialmente em homens que procuram preservar a fertilidade e níveis ideais de testosterona.
Exposição solar e produção hormonal masculina
Estudos clássicos como o de Myerson e Neustadt demonstraram que a exposição de diferentes áreas do corpo masculino à radiação UV, incluindo a zona genital, aumentou significativamente a excreção urinária de metabólitos de testosterona (9). Esta observação precoce sugere que a radiação solar, especialmente os UVB, pode estimular a produção hormonal por vias neuroendócrinas ativadas na pele.
A pele atua como parte de um eixo pele-cérebro-gónadas, capaz de modular a produção hormonal em resposta à luz (10). Embora práticas recentes como o “testicle tanning” sejam polémicas, os dados científicos sustentam que uma exposição solar moderada e segura, inclusive nas regiões menos expostas, pode ter benefícios hormonais — desde que respeitando os limites da segurança cutânea.
Impacto da luz artificial na saúde hormonal do homem
A exposição crónica à luz azul à noite e a falta de luz natural durante o dia estão entre os principais fatores que comprometem a regulação hormonal circadiana. Estudos mostram que:
• Dormir com luz artificial reduz a melatonina e interfere na regeneração hormonal (11)
• A privação de sono reduz os níveis de testosterona em apenas uma semana (12)
• O desequilíbrio luz-escuridão está associado a maior risco de infertilidade, síndrome metabólica e depressão (13)
A ereção matinal como indicador de saúde hormonal
A chamada ereção matinal (ou tumescência peniana noturna) é um marcador importante do funcionamento hormonal, neurológico e vascular. Homens com níveis adequados de testosterona tendem a apresentar ereções espontâneas durante a fase REM do sono — frequentemente ao acordar — enquanto a sua ausência pode refletir desequilíbrios hormonais, apneia do sono ou disfunção erétil orgânica (14–16).
Este fenómeno fisiológico, embora muitas vezes ignorado, é uma forma simples e útil de monitorizar a integridade do sistema reprodutivo e do eixo hormonal masculino (17).
O homem solar e o estilo de vida moderno
Durante milhares de anos, o corpo masculino evoluiu com base em rotinas sincronizadas com a luz solar: acordar com o sol, mover-se ao ar livre, repousar ao entardecer. No entanto, o estilo de vida moderno — dominado por interiores, ecrãs e horários desregulados — quebrou essa conexão.
A desregulação prolongada do ritmo solar pode manifestar-se em:
• Fadiga persistente
• Diminuição do desejo sexual
• Redução da força e da massa muscular
• Dificuldade de concentração
• Irritabilidade e instabilidade emocional
Como restaurar o ritmo solar masculino?
Para recuperar o funcionamento hormonal e a vitalidade masculina, é necessário alinhar novamente o corpo com o seu ritmo natural. Eis algumas práticas fundamentais:
1. Exposição solar matinal diária, sem óculos escuros, por 5–10 minutos
2. Evitar luz azul à noite (usar óculos com filtro ou luzes vermelhas)
3. Dormir em escuridão total (sem luzes de standby, usar cortinas blackout)
4. Exercício ao ar livre, preferencialmente nas primeiras horas do dia
5. Manter horários consistentes de sono e praticar jejum estratégico adaptado ao estilo de vida
Conclusão
O corpo masculino é profundamente rítmico e dependente da luz natural. As hormonas, a fertilidade, a energia e o foco estão diretamente ligados ao ciclo dia-noite. Ignorar esse ritmo é viver contra a própria biologia. Restaurá-lo é reconectar com a vitalidade, a clareza e a longevidade.
Como a nutrição funcional pode ajudar
A nutrição funcional considera o corpo como um sistema interligado — e o ritmo hormonal masculino não é exceção. Através de uma avaliação individualizada, é possível identificar os desequilíbrios que afetam energia, fertilidade e testosterona, e atuar de forma integrada.
Para além da alimentação, abordam-se questões como sono, luz, inflamação, stress e metabolismo. O objetivo é reprogramar o corpo para recuperar o seu ritmo natural, promovendo um estado de equilíbrio e performance sustentada.
📩 Para saber mais ou agendar uma consulta, basta entrar em contacto.
Referências bibliográficas
1. Czeisler CA, Duffy JF, Shanahan TL, Brown EN, Mitchell JF, Rimmer DW, et al. Stability, precision, and near-24-hour period of the human circadian pacemaker. Science. 1999 Jun 11;284(5423):2177–81.
2. Touitou Y, Haus E. Alterations with aging of the endocrine and circadian systems and their relationships with sleep disorders. Experimental Gerontology. 2000 Jun–Aug;35(6–7):693–706.
3. Axelsson J, Ingre M, Akerstedt T, Holmbäck U. Effects of acute sleep deprivation on testosterone. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 2005 Dec;90(12):680–4.
4. Vandewalle G, Maquet P, Dijk DJ. Light as a modulator of cognitive brain function. Trends in Cognitive Sciences. 2009 Oct;13(10):429–38.
5. Israelevitz D, Shimon I, Lavi I, Grossman A, Golan R, Singer D. Temporal Decline in Serum Testosterone Levels in a Large Cohort of Israeli Men. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 2020 Apr;105(4):dgz263.
6. Travison TG, Araujo AB, O’Donnell AB, Kupelian V, McKinlay JB. A population-level decline in serum testosterone levels in American men. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 2007 Jan;92(1):196–202.
7. Shafik A. Polyester-induced infertility in the dog. Urology. 1992 May;40(5):465–9.
8. Shafik A. Effect of different types of textile fabric on spermatogenesis. Urological Research. 1993 Oct;21(5):367–70.
9. Myerson RM, Neustadt RE. Influence of ultraviolet irradiation upon excretion of sex hormones in the male. The Journal of Clinical Endocrinology. 1939 Jul;1(7):469–72.
10. Slominski AT, Zmijewski MA, Skobowiat C, Zbytek B, Slominski RM, Steketee JD. The skin as an endocrine organ: UV-induced steroidogenesis and the skin–pituitary–adrenal axis. Physiological Reviews. 2013 Oct;93(4):1459–512.
11. Chang AM, Aeschbach D, Duffy JF, Czeisler CA. Evening use of light-emitting eReaders negatively affects sleep, circadian timing, and next-morning alertness. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 2015 Jan 27;112(4):1232–7.
12. Leproult R, Van Cauter E. Effect of 1 week of sleep restriction on testosterone levels in young healthy men. Journal of the American Medical Association. 2011 Jun 1;305(21):2173–4.
13. Lanfranco F, Gianotti L, Pivetti S, Navone F, Rossetto R, Giordano R, et al. Circadian rhythms, sleep and endocrine function: interactions with the environment and aging. Sleep Medicine Reviews. 2004 Jun;8(3):281–94.
14. Granata AR, Rochira V, Lerchl A, Aranda C, Rochira P, Carani C. Relationship between sleep-related erections and testosterone levels in men. Journal of Andrology. 1997 Sep–Oct;18(5):522–7.
15. Horita H, Kumamoto Y. Study on the relationship between serum free testosterone level and nocturnal penile tumescence (NPT). Nihon Hinyokika Gakkai Zasshi. 1994 Oct;85(10):1511–21.
16. Muneer A, Kalsi J, Nazareth I, Arya M, Minhas S. Erectile dysfunction. BMJ. 2014 Feb 3;348:g129.
17. Corona G, Mannucci E, Mansani R, Petrone L, Bartolini M, Giommi R, et al. Aging and pathogenesis of erectile dysfunction. The Journal of Sexual Medicine. 2010 Apr;7(4 Pt 1):1537–45.
Atinja os seus objetivos com o melhor acompanhamento!
Pedro Bizarro
Nutricionista · 5695N
Nutrição Funcional: "Mais anos de vida, mais vida nos anos”