Nos últimos meses, temos visto crescer o número de casos de mal súbito dentro de academias, muitos envolvendo jovens aparentemente saudáveis. Em alguns desses episódios, a morte acontece de forma repentina, durante ou logo após o treino. Diante disso, uma pergunta precisa ser feita: até onde vale a pena arriscar a vida por um treino mais intenso?

O culto ao desempenho e o uso indiscriminado de substâncias

Vivemos a era do “no pain, no gain”, onde o corpo definido é símbolo de conquista, e a performance física, quase uma exigência social. Nesse cenário, substâncias como pré-treinos e bebidas energéticas têm sido cada vez mais utilizadas – muitas vezes sem qualquer orientação profissional.

A promessa é tentadora: mais energia, foco, rendimento. Mas o que poucos sabem – ou ignoram – é que esses produtos podem sobrecarregar o sistema cardiovascular e neurológico, especialmente em pessoas com pré-disposições não diagnosticadas.

O perigo está no detalhe que ninguém vê

Os pré-treinos geralmente contêm altas doses de cafeína e outros estimulantes, como sinefrina, yohimbina e taurina. A mistura desses compostos pode elevar perigosamente a frequência cardíaca, a pressão arterial e aumentar o risco de arritmias cardíacas – principalmente em quem não conhece sua própria condição de saúde.

Segundo um estudo publicado na Journal of the International Society of Sports Nutrition, o uso excessivo de cafeína pode causar efeitos adversos sérios, como taquicardia, ansiedade, insônia, hipertensão e até morte súbita em casos extremos. O artigo alerta que doses acima de 400 mg por dia já são consideradas potencialmente perigosas, especialmente para indivíduos sensíveis ou com histórico de doenças cardíacas não diagnosticadas (Goldstein et al., 2010).

A importância do acompanhamento nutricional e da avaliação bioquímica

Antes de pensar em acelerar seus resultados, é essencial conhecer seu corpo de verdade. Fazer uma avaliação bioquímica completa e ter o suporte de um(a) nutricionista é o caminho mais seguro para alcançar performance sem colocar a saúde em risco.

Cada organismo reage de forma diferente, e apenas um profissional poderá avaliar suas necessidades energéticas, seu metabolismo, seu histórico clínico e a segurança do uso de qualquer substância.

Conclusão

A busca por resultados rápidos não pode custar vidas. É hora de promover a consciência.

Se você treina ou atende pessoas que treinam, espalhe esse alerta: suplementação não é moda – é uma ferramenta que deve ser usada com responsabilidade e orientação profissional.

Como nutricionista, deixo o convite: cuide da sua saúde com o mesmo empenho que cuida do seu corpo. A verdadeira performance começa com equilíbrio.

🧬 Referência:

Goldstein, E. R., et al. (2010). International society of sports nutrition position stand: caffeine and performance. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 7(1), 5. https://doi.org/10.1186/1550-2783-7-5