Hoje vamos entender por que é tão difícil resistir a certos alimentos.

E para começar, aqui vai uma pergunta: você já se pegou dizendo ou ouvindo a frase “Eu sei que faz mal, mas...”? Mesmo sabendo que alguns alimentos são prejudiciais, você simplesmente não consegue resistir. Isso acontece porque uma verdadeira batalha está sendo travada no seu cérebro, e a principal arma nessa guerra é a dopamina. Essa substância poderosa pode sabotar seus objetivos de manter uma vida saudável e, em casos extremos, pode até comprometer sua saúde de forma irreversível.

Mas o que é a dopamina?

De forma simples, a dopamina é um neurotransmissor – uma substância química do sistema nervoso – que desempenha um papel fundamental no nosso sistema de recompensa.

Na prática, funciona assim: quando você come algo delicioso, a dopamina é liberada, proporcionando uma sensação de prazer no seu cérebro. Isso é ruim? Na verdade, não. Esse mecanismo é crucial para a nossa sobrevivência. O cérebro utiliza a dopamina para nos lembrar de sabores, aromas e experiências sensoriais agradáveis, incentivando-nos a buscar nossa próxima refeição.

Mas então, se a dopamina é benéfica, por que ela está associada ao consumo de alimentos pouco saudáveis?

O problema é que nosso sistema de recompensa pode ser "sequestrado". Isso pode ocorrer com drogas como cocaína e heroína, mas também com álcool, cigarro e até com uma simples xícara de café. É por isso que as pessoas têm tanta dificuldade em abandonar esses hábitos. As drogas são potentes desencadeadores de dopamina, e os dependentes costumam perder o interesse por prazeres mais saudáveis, como comida, sexo e outras atividades, em favor da substância.

E é aqui que entra a questão da alimentação. A indústria alimentícia encontrou uma maneira de participar desse jogo: os alimentos processados são intencionalmente fabricados para liberar grandes quantidades de dopamina, transformando-os em verdadeiros "vícios alimentares". Enquanto frutas como maçãs e laranjas liberam pequenas quantidades de dopamina, os alimentos processados são projetados para gerar uma liberação muito maior, tornando-se cada vez menos parecidos com alimentos naturais e mais com drogas.

Vamos a alguns exemplos para entender melhor.

A indústria alimentícia utiliza três "armas" principais: açúcar, sal e gordura.

O açúcar é o principal vilão, presente em uma infinidade de produtos e gerando um enorme sucesso, não para a saúde, mas para as vendas. Porém, sozinho, o açúcar não teria o mesmo impacto. Quando combinado com a gordura, ele se torna irresistível. A gordura é responsável por dar textura, sabor e aroma aos alimentos, tornando-os incrivelmente palatáveis. Exemplos clássicos dessa combinação são o chocolate, os sorvetes e os biscoitos recheados.

Já o sal é outro elemento que provoca grande desejo. As pessoas adoram alimentos salgados, mas esses desejos geralmente são direcionados para opções nada saudáveis, como salgadinhos fritos e alimentos altamente processados, que combinam sal com muita gordura e carboidratos refinados, como pizza, coxinha e pastel.

Essa combinação de açúcar, sal e gordura cria um ciclo vicioso, no qual o cérebro é inundado de dopamina, gerando hábitos difíceis de romper. Repetimos o consumo desses alimentos em busca do prazer que eles proporcionam, tornando a mudança de hábitos cada vez mais desafiadora.

Muitas vezes, a chamada "liberdade" de comer o que quisermos de forma moderada se transforma em uma prisão, dominada pelos efeitos viciantes da dopamina.

Mas calma, existe solução.

Nosso cérebro possui uma capacidade incrível chamada neuroplasticidade que seria  a habilidade de se adaptar, mudar e moldar novas conexões. Um bom exemplo para entender isso é pensar em um caminho numa mata. Se você passa sempre pelo mesmo lugar, ele se mantém aberto. Mas se você parar de usá-lo, a vegetação começa a crescer, e o caminho desaparece. O mesmo ocorre com os nossos hábitos alimentares. Se você, por exemplo, consome chocolate todos os dias, o “caminho neural” relacionado ao desejo por chocolate fica fortemente ativado. Mas se você começar a experimentar novos sabores e texturas, novos caminhos neurais serão criados, e os antigos, relacionados aos alimentos nocivos, irão enfraquecer com o tempo.

Mesmo que você tenha se alimentado mal por muitos anos, nunca é tarde para mudar. Nosso corpo está em constante renovação. Veja alguns exemplos:

- Células do estômago: 5 dias

- Glóbulos vermelhos: 4 meses

- Células do fígado: 300 a 500 dias

- Ossos: 10 anos

O que você começar a fazer hoje se refletirá no seu corpo amanhã.

Que Deus nos ajude a fazer as melhores escolhas!

Um abraço da sua nutri e até a próxima!!!