Nos últimos anos o conceito de "alimentação saudável" tem vindo a ser deturpado face a tanta desinformação que circula nos meios de comunicação e redes sociais. Em consulta é frequente ouvir: "substituí o pão normal por pão sem glúten, tapioca, cereais ou bolachas integrais/bio"; "só como batata doce, massa e arroz integral"; "substitui o leite por bebidas vegetais; uso sal rosa, óleo e açúcar de coco". Serão estas substituições obrigatórias e sinónimas de uma alimentação mais saudável?
Produtos com alegações nutricionais: a sua presença no rótulo é frequentemente interpretada como alimento saudável. Contudo, o facto de um produto ser "rico em fibra", "bio", "vegan", "sem glúten e/ou lactose", não faz dele uma boa escolha por si só, na medida em que pode conter quantidades elevadas de açúcar, sal e/ou gordura. É importante analisar os rótulos como um todo, atentando também na lista de ingredientes e declaração nutricional.
Massa e arroz integral: nutricionalmente interessantes, contudo as diferenças são pouco significativas comparativamente às versões comuns.
Tapioca: não representa uma mais valia para pessoas tolerantes ao glúten, já que é maioritariamente uma fonte de hidratos de carbono (HC), pobre em vitaminais, minerais e fibra.
Sal rosa e açúcar de coco: apresentam um teor ligeiramente mais alto de alguns micronutrientes, contudo, para que essa diferença seja realmente impactante no dia alimentar de um indivíduo seria necessária uma dose de consumo elevada, o que não é de todo desejável.
Bebidas vegetais: se gosta de leite e não apresenta alergia, intolerância ou sintomas gastrintestinais associados ao seu consumo não tem que deixar de o beber. Contrariamente à maioria das bebidas vegetais, é um alimento barato, naturalmente fonte de proteína, vitaminas e minerais.
Batata doce vs. branca: a 1ª apresenta um valor calórico e de HC mais alto, sendo de realçar o seu maior teor de vitaminas com efeito antioxidante (A, C e E). Já a 2ª vence no que ao teor de potássio e vitaminas do complexo B diz respeito. Há espaço para ambas numa alimentação saudável.
Óleo de coco: constituído sobretudo por ácidos gordos (AG) saturados, o seu consumo pode contribuir para o aumento dos níveis de colesterol. Pelo contrário, o azeite apresenta um perfil de AG maioritariamente monoinsaturado o que, a par com o seu teor em vitamina E, compostos antioxidantes e anti-inflamatórios, torna esta gordura mais interessante para a saúde.
Para ter uma alimentação saudável não tem que comprar todos os alimentos dispendiosos que viraram moda nas redes sociais. Procure ter uma ingestão alimentar variada privilegiando o consumo de alimentos locais, da época e nutricionalmente ricos como hortofrutícolas, leguminosas e cereais ricos em fibra. Complemente com fontes proteicas e de gordura de boa qualidade, em quantidades adequadas às suas necessidades.