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Celíaco, alérgico ou sensível ao glúten: qual é a diferença, afinal?

terça-feira, 28 de junho de 2022

Como já citei em outro artigo, a doença celíaca faz parte de um grupo de Desordens Relacionadas ao Consumo de Glúten (DRG). Estima-se que 1% a 6% da população mundial seja afetada por algum tipo de distúrbio que pode, em algum momento da vida,  gerar complicações com graves consequências à saúde destas pessoas. Os portadores de DRG, como a doença celíaca, sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC), alergias e até mesmo distúrbios neurológicos, encontram dificuldades desde o diagnóstico, acompanhamento, dúvidas sobre como e onde comer e, até mesmo quanto aos tipos de alimentos que são permitidos ou proibidos.

Mas muitos de vocês me enviaram mensagens perguntando sobre as diferenças entre essas três Desordens Relacionadas ao Consumo de Glúten, e eu vou tentar esclarecer sem complicar muito. Nos últimos anos, o glúten tem gerado muitas discussões e ainda hoje é uma questão polémica. Na verdade, o glúten não é uma proteína, mas sim um complexo proteico composto por gliadinas e gluteninas, e que faz parte da composição do trigo, centeio, cevada e kamut. Além disso, pode estar presente, por contaminação cruzada, na aveia e em inúmeras outras farinhas, uma vez que costumam ser processadas nos mesmos sítios onde o trigo, centeio e cevada são processados. 

Bem, a Doença Celíaca (DC) é uma doença inflamatória intestinal, caracterizada por provocar reações do sistema imunitário e que é ativada pelo consumo de glúten em pessoas que já possuem essa predisposição. A Associação Portuguesa de Celíacos (APC) define a DC como sendo: "...uma doença crónica, autoimune, que surge na sequência da ingestão de glúten em indivíduos geneticamente susceptíveis e que se caracteriza por atrofia das vilosidades do intestino delgado." 

Ainda que seja mais comum em crianças, a incidência do diagnóstico em adultos tem aumentado nos últimos anos e, segundo dados da APC, cujo acesso para informações mais detalhadas está disponível clicando em cima do nome em verde, 25% dos novos casos são diagnosticados em pessoas acima de 60 anos. Não se sabe ainda, exatamente, a razão pela qual algumas pessoas não apresentam os sintomas gastrointestinais clássicos como distensão abdominal, diarréia ou obstipação e, por essa razão são diagnosticadas tardiamente, pois os sintomas podem, facilmente confundir-se com os sintomas de outras patologias (ver artigo sobre Ataxia do Glúten).

O método diagnóstico mais fiável para a Doença Celíaca é a biópsia do duodeno, a ser realizada por um médico gastroenterologista, através de uma endoscopia digestiva alta. Aqui, deixo-vos um alerta sobre a importância de que o glúten não seja excluído da dieta antes da realização do exame, pois isso poderá interferir no resultado.

Quanto à alergia ao trigo e à sensibilidade ao glúten não celíaca, os critérios diagnósticos baseiam-se em fatores de exclusão, como demonstra tabela abaixo:

Fonte: Associação Portuguesa de Celíacos. Acesso ao site em 27 de junho de 2022. 

No caso da Alergia ao Trigo (AT), ou às proteínas do trigo (gliadinas e gluteninas), as reações alérgicas ao complexo proteico do glúten ou à alguma de suas frações, podem ser de varias formas e intensidade diversa. Podem ser caracterizadas por reações na pele, como coceira, por exemplo; reações gastrointestinais ou respiratórias, como a "asma do padeiro", causada pela constante inalação da farinha de trigo (2,3). O diagnóstico costuma ser feito por teste cutâneo e/ou serológicos (4,5).

Por fim, a Sensibilidade ao Glúten não Celíaca (SGNC) é caracterizada por uma reação do organismo decorrente da ingestão de glúten, mas que não é identificada mediante a realização dos testes anteriormente descritos, ou seja, não pode ser detectada por biópsia, nem por testes genéticos ou serológicos. O fato é que  os sintomas existem, ou seja, o indivíduo pode apresentar os mesmos sintomas da DC e, no entanto, não ser diagnosticado como tal. Mas, ao eliminar o glúten da dieta, os sintomas desaparecem, tal como nas outras situações apresentadas.

O importante esclarecer aqui é que, enquanto mais estudos sobre as desordens associadas ao consumo do glúten não sejam realizados para o esclarecimento sobre o impacto desse complexo proteico sobre a saúde humana, não é recomendada a retirada do glúten da dieta para a população saudável (6).


Referências

1. Associação Portuguesa de Celíacos. APC. https://www.celiacos.org.pt/ Acesso em 27 de junho de 2022.

2. MAKELA, M. J; C. ERIKSSON, A.; KOTANIEMI-SYRJANEN, K.; et al. Wheat allergy in children - new tools for diagnostics. Clin. Exp. Allergy., v.44, n.11, p.1420-1430, 2014.

3. SAPONE, A.; BAI, J. C.; CIACCI, C. et al. spectrum of gluten-related disorders: consensus on mew nomenclature and classification. BMC Med., v. 10, p. 13, 2012.

4. SANDER, I.; RIHS, H. P.; DOEKES, G. et al. Component-resolved diagnosis of baker's allergy based on specific IgE to recombinant wheat flour proteins. J. Allergy Clin. Immunol., 2015.

5. SOARES-WEISER, K.; TAKWOING, Y.; PANESAR, S.S. et al. The diagnosis of food allergy: a systematic review and meta-analysis. Allergy, v.69, n.1, p. 76-86, 2014.

6. COZZOLINO, S.M.F. et al. Biodisponibilidade de nutrientes. 5. ed.,  cap. 40, p. 1065, Barueri, SP: Manole, 2016.


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Gisela Arnaud
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